Uma das principais ligações entre Contagem e BH; uma alternativa entre o Barreiro e o Centro da capital; e, ainda, um opção quase obrigatória para quem vive em bairros da Região Oeste e Centro-Sul da cidade. A Avenida Amazonas se apresenta, todos os dias, como uma das artérias do trânsito de Belo Horizonte, por meio de um vai e vem de veículos que reúne carros, motocicletas e ônibus, inclusive muitos do sistema metropolitano.
Esse cenário, aliado à imprudência e desatenção dos motoristas, faz a via registrar cerca de 20 mil acidentes nos últimos 10 anos, como mostra o Núcleo de Dados do EM em nova publicação da série de reportagens “Risco sobre Rodas”. Os números deste texto só consideram o trecho do corredor em BH.
São cerca de cinco acidentes todos os dias na Amazonas, conforme números do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais, segmentados pela reportagem.
Somente as avenidas do Contorno e Cristiano Machado e o Anel Rodoviário concentram mais ocorrências desde 2014. Ao considerar o total de tragédias com feridos graves, o corredor entre BH e Contagem também ocupa a quarta colocação: são 200 registros do tipo desde janeiro de 2014 até abril deste ano – a atualização mais recente da base de dados. Na prática, em média, a cada 19 dias as autoridades são acionadas para resgatar uma pessoa gravemente ferida na via.
Na última década, a Amazonas soma 36 mortes no trânsito, ou uma a cada 105 dias. O consolidado de vidas perdidas também é o quarto maior da cidade. O total de óbitos da avenida só é superado pelo Anel Rodoviário, pela Cristiano Machado e pela Antônio Carlos. Essa última via será a analisada pela série “Risco sobre Rodas” nesta quinta-feira (20).
Para o professor de educação e segurança no trânsito do Cefet-MG, Agmar Bento Teodoro, a Amazonas encara um cenário misto, que resulta num alto número de acidentes. De um lado, é semelhante à Avenida Cristiano Machado, ao concentrar pontos de interesse, como o Expominas, o Cefet e o Hospital Sara Kubitschek. Por outro, o trecho que faz parte do Hipercentro se torna terreno fértil para atropelamentos pelo movimento intenso de pedestres.
“Além disso, temos que lembrar que a Avenida Amazonas tem um fluxo grande de veículos no sentido perpendicular (cruzamentos). São muitos bairros próximos a ela. É uma conexão norte-sul. Por exemplo, ela serve de acesso para os bairros Buritis (Oeste) e Padre Eustáquio (Noroeste) ao mesmo tempo”, afirma Agmar Bento Teodoro.
Neste ano, a Amazonas protagonizou uma tragédia em maio. Uma jovem de 20 anos morreu após um capotamento na altura do Bairro Gameleira, Região Oeste da cidade, na madrugada de um sábado. O motorista do carro, de 21, apresentava sinais de consumo de álcool. Ele negou ter bebido, mas recusou a realização do teste de bafômetro. Testemunhas relataram à Polícia Militar (PM) à época que o condutor fazia manobras em zig-zag e em alta velocidade quando perdeu o controle da direção. Ele foi detido em flagrante. A PM também o multou por dirigir com a carteira de habilitação e o licenciamento do veículo vencidos.
Em fevereiro, o mesmo motorista envolvido no capotamento atropelou um idoso de 63 na mesma avenida, só que na altura do Alto Barroca, na mesma regional da capital mineira. A vítima atravessava a via em um semáforo, quando foi atingida. Ela foi socorrida ao hospital.
Ponto crítico
Na Avenida Amazonas, um trecho de aproximadamente um quilômetro de extensão, entre os bairros Alto Barroca e Gutierrez, no Oeste de BH, concentra quatro pontos com acidentes fatais nos últimos três anos (veja mapa abaixo) – justamente onde o jovem de 21 atropelou o idoso de 63 em fevereiro. O vendedor de estofados de carro Rian Henrique, de 18 anos, trabalha neste trecho. Somente neste ano, em frente a loja onde trabalha, ele já viu diversos acidentes. “Teve uma semana que foram uns cinco num sinal aqui perto. Geralmente, tem uma moto envolvida. Os motociclistas se assustam com o semáforo e freiam de uma vez. Daí, vem alguém atrás e bate”, explica.
Rian afirma que, depois que a Prefeitura de BH podou as árvores na Amazonas, o número de ocorrências diminuiu. “Os galhos das árvores tampam o sinal quando estão muito grandes. Os motoristas e, principalmente, os motociclistas que andam mais rápido, veem o semáforo muito tarde. Assim, acontecem os acidentes”, diz.
O dono de uma lanchonete na região há 20 anos, que não quis se identificar, relata que não acha a via perigosa, porque é bem sinalizada, tem radar de velocidade e de avanço de sinais e muitas faixas. Mas, na visão dele, o problema das recorrentes ocorrências são os motoristas. “O pessoal anda apressado. Aqui tem muito acidente pequeno, de motoqueiro caindo ou carro batendo na traseira de outro, a maioria falta por atenção mesmo”, afirma.
Mesmo ainda presenciando tragédias nesse trecho da Amazonas, o comerciante ressalta que a gravidade das ocorrências mudou com o tempo. Segundo ele, a situação melhorou com a instalação dos avanços de semáforos. “Os veículos pararam de furar o sinal. Antes, eu via muitos acidentes mais graves de um batendo com outro de frente, de precisar chamar a ambulância. Os ônibus que iam para o Barreiro frequentemente paravam ali no posto por causa de batidas graves”, relembra.